Valadares era um homem bom
Veio de jegue da Bahia
Largou tudo lá
Vendeu barraco, o sapato
E todos os seus pertences
Vendeu a nega por um preço bom
Pois ela tinha três dentes de ouro
Foi prá São Paulo
Montou tabacaria
Nunca mais ficou à pé
Sofisticou seu jegue, espora e tudo
Sela de couro bordada
Pele de carneiro prá amaciar
Mandou pro conserto
Duas cuecas frouxas
Deu jeito na vida
Enviou postais
Prá famiagem lá
Museu do Ipiranga, Empurra-empurra, Praça da Sé,Viaduto do Chá
Mandou beijo prá Cida
Disse que logo ia voltar prá buscar
Porém um dia Valadares caiu
Tabacaria faliu
E o jegue morreu
De fumaça e de frio
Valadares gritou
Mas ningúém ouviu
Entre carros e buzinas
Valadares sumiu
Devendo prá todo mundo
Veio carta da prefeitura
Conta de água, luz, aluguel
A despesa do armazém do Seu Manoel
Do boteco do Seu Miguel
Que se conformaram em receber no céu
Valadares sumiu
São Paulo o engoliu
Estaria na Lapa
Na Penha ou na Mooca
Foi aberto inquérito
Por apropriação indébita
Sonegação e outros bichos
Valadares injuriou
Desta vida de cão
Deu saudade do coqueiro, acarajé, sol, banho de mar
Valadares foi pro ar
De tanto sonho de voltar
Mas como se não tinha mais
O jegue prá levar?