Quem sou eu

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Nasci em Pres. Prudente, me formei em jornalismo pela Unesp de Bauru. Morei quatro anos nos Estados Unidos, onde estudei Inglês na Rutgers University of Newark - New Jersey. Completei 20 anos de carreira trabalhando nas redações das TV's Bandeirantes, SBT, Record e afiliadas da Rede Globo. A maior parte do tempo como repórter. Também dei aula de redação jornalística na Universidade Federal de Mato Grosso - Cuiabá. Fui editora de texto por 5 anos na TV TEM de São José do Rio Preto. Atualmente trabalho na Secretaria do Meio Ambiente. Tenho um interesse profundo pela poesia. Na fila para edição estão um livro de poesias e um infantil. O poema "Dilata" postado nesse Blog foi pra fase regional do Mapa Cultural Paulista. O romance "A queda da Manga" foi uma das quatro obras selecionadas pelo 'Concurso Nelson Seixas' de fomento à Cultura de Rio Preto. Gosto de gente simples, verdadeira. Do mesmo jeito que curto interagir com as pessoas, também fico muito bem sozinha.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Relógio

Envelhecido
Não se cansa
Marca chance
Desafio
Vida e dor
É o que ele conta

Espalha seus minutos
Como uma mãe
De incontáveis filhos
Na sala vazia
Enche todos os espaços
Tiquetaqueando

E uma matemática precisa
Ganha proporção
Lógico o relógio
Vai registrando
O sim e o não

Ao peso
De cada segundo
O eixo veloz suspende
O ponteiro preguiçoso
Das horas
Que feito mágica
Avança

Sob seus efeitos
Estão em fila
Todos os mortais

Pela janela
O tempo
Nem tão bom
Nem tão agressivo
Mira a flor
Que dentro de instantes
Morrerá

Fantoches

Fantoches
São sábios de pano

Pulam
Saltitam
Fazem até caretas
Nos dias de atividade

Se contentam em ter como corpo
Uma única mão
E como casa
Uma janelinha aberta

Depois repousam murchos
Nas prateleiras da escola
Moles, inativos
Como se jamais tivessem sido vivos

Mas em segredo
No mundo imaginário
Se alimentam dos sorrisos
Que levaram pro armário

Lei do mais forte

Da raposa, sou o medo 
da galinha. Da galinha sou a fome
da raposa. Dialética. O mais forte, o mais fraco, morte! A síntese é o resumo cozido da luta, ironia da vida, um prato de comida.
A raposa, a galinha, o medo, a fome.
O saciar  pela dor do outro...

Sina

É sempre a mesma sina, a mesma cena,
uma centena de vezes, uma sentença de morte. É sempre o mesmo sino que avisa o menino que a mãe partiu, na mesma esquina que uma moça pariu. Parece um palco! Mentirosos acenam para o povo e seguem matando pela cor. Alguém assina essa sina assassina. E de tão  oficial esse tormento, a morte parece um documento.

domingo, 26 de setembro de 2010

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ironia

Durante o tempo
A vida ensina
Que não há nada que sofra tanto no mundo
Quanto a alma feminina

Mas,
Se nas coisas de Deus
Eu puder meter a colher
Quero nascer novamente
Um milhão de vezes
Mulher

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Colarinho sujo

Corrúptos não tem clemência
Esmagam com pás de terra
Os olhos da transparência

7 perguntas

Combater o amor?
Transformá-lo em esquecimento?
Arrancar da memória cada intenso momento?
Aceitar a distância?
Se render às circunstâncias?
Trocar alegria por rotina?
Me ensina?

Da falta

A falta é
ironicamente,  a mais absoluta das presenças...

Amor

O velhinho sujo, no chão, penteava o cabelinho branco da velhinha suja.
Vi nesta noite, o amor mais limpo, 
que não podia estar naquela calçada...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Lapidação

A poesia
É coisa vã
Quer transformar
A matéria bruta
Em matéria prima
Em matéria irmã

Magia

Sou fada rústica, amiúde
A mágica que faço, é sobreviver
à minha inquietude...

Enigma

Alma, turbilhão. Meu amor ou meu irmão? 

Inconstante furacão.  Como interpretar seu coração?  
Tive vida ou tive sorte? Já te vi em outra morte?

Contradição

Como um rio que esconde coisas em seu fundo, ocultei amor profundo...

Pra num golpe de inocência, revelar na transparência...


Solidão

A solidão de estar sem você

É pior que a solidão de estar sozinho...

A morte da abelha

Uma  abelha hoje
Me chamou a atenção

Olhei pro alto
E ela caiu ao chão
Quase morta
Ao pé de minha porta
Ficou se debatendo
Se debatendo
Sem flor
Sem grão
Encenou sem mel
Amarga lição
Até eu entender
Admirado
Que finitude
É um desespero
Calculado
E que o ferrão
É arma fútil
Que ter vida
Apenas
É inútil...

Te perder

Te perder sem te ter tido, não é nada divertido. É sorvete derretido. É voltar sem não ter ido. É poema invertido, que morre sem ter nascido. É viver o não vivido. É partir o olhar unido. Sentimento atrevido...te perder sem te ter tido...

Tunel

Reviro a vida, desfaço promessas
Remendo retalhos, crio novas peças
Conto grãos de areia, pra acreditar no infinito
Contesto o sim, celebro o não
O que esperar de um coração?
Mudo de lugar o que já supus, em busca de um túnel no fim da luz...

Aberto

Pode chover
Meu guarda-chuva está aberto
Não tenho medo do incerto
Pode vir tromba dágua
Garoa fina
Ou mesmo chuva de granizo
Se precisar vou me molhar
Para colher algum sorriso

Parte ida

O moço partiu
A moça chorou
Ninguém se importou
Com a sina da vida


Nunca inteira
Sempre partida

Toada

O pássaro vôa
À toa
Seu beijo
Pousa em mim
E ousa
Nossas vidas
Uma música entoa
E ousa
E vôa
À toa

Indiferente

Você não sabe, do desafio de um parto, da escuridão de um quarto, da cor da flor morta, da dor da ferida, do peito atingido, do medo e do riso, do  sonho esquecido, da espera sem eco, da cicatriz de um corte, do enfrentamento da morte, da dualidade da sorte, da viabilidade do risco, do corpo caído, do chão recospido, do tapa na cara, da capa de pregos, dos  que tem olhos e estão cegos...Você não sabe, não deve saber, da ternura de um beijo...

Pedra e tijolo

Por este vento, este
 tempo, este cimento, acontecimentos... A marca de nossas vidas em sonhos de concreto, perdidos 
no mais abstrato pensamento... Escondidos em véus de adeus daquele eu obscuro, daquele eu mais puro, que a gente nem conheceu...

Decisão

Não te sonharei mais
Des existo
Desisto
Disto
Sou misto
Agora isto
Depois
Ex-isto

Café frio

Vou beber
Este café
Quente
Prá queimar
As palavras
Que sobem
Por minha garganta
E engolir
Seco
Este choro molhado

Definição

Você
Pessoa linda
Traz o gosto
De quem tem a vida
E a inocência
Ou a safadeza
De pular do telhado de guarda-chuva

Pouco antes de você chegar

Meio a trama, caí na lama, melei o drama, pulei da cama, armei cabana, 
comi banana, chorei por grana,
matei a dama,
alguém me engana,
você me ch(ama),
ouço "Luciana".
Sou eu mesma!
O que faço agora?

Minha droga

Tu
Estonteante
Me deixas
Quando por acaso
Me olhas

E te bebo
E te trago
Me entorpeço

Deserto

E eu?
Deserto que sou
Ilusão que projeto
(Às vezes)
Um ponto
Sem parada
Um conto
De fadas
(morto)
Um porto
Um cais
Um mais
Um nada

Constatação

A palavra calada ou falada
 Xinga, berra, grita
quase em vão...
Nossa comunicação não comunica...
Está intimamente ligada
à nossa capacidade de saber ouvir.

Chama

Há fogo
Há água

A água
Afoga
O fogo

Seu beijo
Afago
Carinhos
Incêndio

Assimetria

A enorme distância
entre um lado e outro da lua, da face oculta da rua, talvez seja a mesma, 
do beijo que não te dei, e guardei, 
quando quase você passou por aqui...

Ocupação

Eu não entendo esta cortina nos seus olhos, o sol só por entre as rendas, a rua que não é seu chão. Eu não entendo a distância dos cenários, o seu corpo aqui e sua vida sem lugar. Mas entendo como tão pouco se
 olha pra dentro... Olhar pra dentro, é habitar seu templo...

domingo, 19 de setembro de 2010

Galeria

Uma vez eu vi uma fome, de um quadro seco, pendurada num homem, de varal.
Uma vez eu vi um varal, de uma fome seca, pendurado num quadro, de homem.
Uma vez eu vi um homem, de um varal seco, pendurado em uma fome, de quadro.
Uma vez, uma vez só, eu vi um quadro,
de um homem seco, pendurado num varal. Com certeza era de fome!
Quando em nosso varal, justiça social?

Trocadilho

O tempo
Perguntou pro tempo
Qual era o tempo
Que tinha mais tempo

O tempo
Nem respondeu pro tempo
Por falta de tempo

Feliz do doce
Que perguntou pro doce...

Eu nego

Venho de mil eras, sonhos e guerras
Sou fruto da construção e demolição
Indefinível neste final de década

Há raízes que dormem seu sono na história
Que originam nas mutações outras tais
A transformarem-se ainda no amanhã

Não me dizem quem sou
Mas insistem persistentemente em me restaurar
Como se fosse uma casa antiga

A moldar sempre
Segundo a expectativa comum
Incutindo e anulando
-Eu nego!

Ao mesmo tempo cavalgo
A um coma profundo
Desta era, no meu eu

Viver, assumir, omitir
Assimilar
Como temos que ser mágicos e milagreiros
Adaptáveis
Como nos lesamos

Quando a realidade é o seio seco da fome
O leite tido como preciosidade
Engulo a propaganda do que devo vestir prá ser alguém

Autodenúncia

Eu já fui
Um poeta mais fiel
Com a caneta
E o papel

Súplica

Ama-me com encanto e abra a mão
que segura esse punhal. A boca seca pede água. O pote vazio é pura agonia
e a lágrima cristalizou em seu trajeto.
A dor é mesmo poderosa... Não seja a minha morte, meu menino...

Êxodo

Valadares era um homem bom
Veio de jegue da Bahia
Largou tudo lá
Vendeu barraco, o sapato
E todos os seus pertences
Vendeu a nega por um preço bom
Pois ela tinha três dentes de ouro
Foi prá São Paulo
Montou tabacaria
Nunca mais ficou à pé
Sofisticou seu jegue, espora e tudo
Sela de couro bordada
Pele de carneiro prá amaciar
Mandou pro conserto
Duas cuecas frouxas
Deu jeito na vida
Enviou postais
Prá famiagem lá
Museu do Ipiranga, Empurra-empurra, Praça da Sé,Viaduto do Chá
Mandou beijo prá Cida
Disse que logo ia voltar prá buscar
Porém um dia Valadares caiu
Tabacaria faliu
E o jegue morreu
De fumaça e de frio
Valadares gritou
Mas ningúém ouviu
Entre carros e buzinas
Valadares sumiu
Devendo prá todo mundo
Veio carta da prefeitura
Conta de água, luz, aluguel
A despesa do armazém do Seu Manoel
Do boteco do Seu Miguel
Que se conformaram em receber no céu
Valadares sumiu
São Paulo o engoliu
Estaria na Lapa
Na Penha ou na Mooca
Foi aberto inquérito
Por apropriação indébita
Sonegação e outros bichos
Valadares injuriou
Desta vida de cão
Deu saudade do coqueiro, acarajé, sol, banho de mar
Valadares foi pro ar
De tanto sonho de voltar
Mas como se não tinha mais
O jegue prá levar?

Homem

O que é o homem
Em seus milênios de existência?
A crença
A loucura
A ausência

Vazio de si mesmo
Espaço inabitado
Volume
Massa
Política oportuna da vida
Reprodução e morte
Deterioração
Lembrança
História
Lutas e sangue

Menino Travesso
Gosta de inventar dinheiro
Sobre a ruína dos povos
Noite
Evolução refinada de estrelas
Sonos mal dormidos
Casas asas distantes
Formiga
Elefante
O que é o homem?

Vamos celebrar
Os vestígios do passado
Festa à fantasia
Fósseis monumentos
Arquiteturas demolidas
Arranha-céus
Esquecimento

Vamos pular o muro
Homem de hoje é futuro
Era da comunicação
E das virtuais linguagens
Tatuagens
No povo oprimido
Desejos de grito
Sufocados no pensamento

Sonhos
Monstros
As diversas faces da vida
O duplo aspecto da morte
O contrário
Do contrário
Avesso
Limite
Máquina

Espelho flácido
Diluindo a expressão
De rostos e cenas
Fotografia estática
Móvel
Matéria compácta
Densa
Angústia
Olhar e astúcia

O homem pensa
Esperança
Pausa
Nulidade na causa
Destaque nos jornais
Notícia no mundo
Fundo
O que é o homem?

Coração partido

Em meio a tua face
A foice
E o que se faz inteiro
É a necessidade
De recolher os pedaços

Declaração

Você é o Cristo Redentor
De braços abertos
para o abraço

Tem a sinceridade
Do meu cachorro
Quando me vê

O calor
Das crianças pobres
Da minha rua
Que no inverno
Passam frio

Você tem a persistência
De querer me ver feliz
Qual as preces
De minha mãe

Tem a fidelidade
De meus irmãos
E a saudade
Que cabe dentro
De qualquer amigo

Você é simples
Como o sono dos meus gatos
É presença matutina
Que dura até o outro amanhecer

E por ser uma das pessoas
Mais verdadeiras que conheço
Devo nem
Dizer mais nada

sábado, 18 de setembro de 2010

Fim

Houve um tempo
Em que o encontro
Era fundamental
Hoje não
Abre-se a porta do escuro
E ninguém se vê
Na ânsia louca
De retomar o que passou
Tateia-se bobamente
As paredes infinitas do quarto
O toque do outro
É susto e agressão
E nem quando amanhece
O gosto amargo
Do nosso olhar se acende

Mal da terra

A guerra tecnológica se instala
Lindas luzes assassinas
Ritmadas à música da morte
Bandeiras debatem-se ao vento
Povos atirados no chão
Estratégias magníficas
Armadilhas fabulosas
Bases subterrâneas
Aéreas
Extraimaginárias
Há verdades
Que parecem lendárias
Ainda ontem
O noticiário na TV
Mostrou tanque exótico
De criação excêntrica
Capaz de girar em torno de si mesmo
No deserto
E ajeitar-se num buraco
No chão
Como serpente silente
Camufla
Ataca o inimigo
Na hora oportura
O veneno não tem antídoto
Não existe remédio
Nem negociação
Seu manto negro
Cobre qualquer escrúpulo
Num misto de pólvora e sangue
Pensam instalar o poder supremo
A hegemonia geopolítica do mundo
Império imbatível e eterno
E vamos ingerindo a guerra
Digerindo facções oportunistas
Formatando pensamentos obscuros
Mesmo que nascemos todos
Um dia para ser puros

O quarto vazio.
O vaso caiu
O susto
O medo
O busto de gesso
O tempo, avesso
Tranquei o relógio no quarto
Querendo parar o tempo
Para eu não morrer, não
De tanta solidão

Avesso

Teu reverso
Menino
É meu verso agora

Displicente
Pois tu e ele
Têm a mesma rima

Não te vejo
Como o avesso
Do meu começo

Nem meu verso
É tão verso
Que termina

Mas aqui
Aos olhos
É a pá na areia

De fincar
Remexer
E arrepiar