É
engraçado como quase tudo passa
Já
quis me agarrar a um amor que parecia certo
Mas
ele se foi pra sempre
E
o outro que passou a fazer sentido
Derreteu
ao se atrapalhar com as máscaras
Estou
usando como rascunho
Um
papel que já foi importante
Tudo
o que me importa agora
É
o lado em branco
Tiro
a importância das coisas
Como
quem troca de roupa apressada
Tenho
pressa de vestir o vazio de significado
Porque
só o avesso parece significar agora
Esse
mesmo avesso
Quase
eu, em releitura
Me
joga diante do espelho
Não
tenho como dobrá-lo
Nem
rascunhar no verso
O
que tiver que ser refletido
Virá
sem dó
Virá
para ser antes, quem não fui
Óbvio
como a rua molhada depois da chuva
Como
a boca lambuzada
Depois
do chocolate
Nada
de metáforas
O
espelho busca o meu avesso preciso
No
contraditório
Quer
me salvar de mim
Pergunta
quantos anos ainda tenho
Me
sugere jogar o cabelo para o lado
Acho
que estou quase bonita
Mas
é beleza que vem do afastamento
E
não da proximidade
Sim.
Estou quase bonita.
Amanhã
não estarei mais.
Quase
que as coisas são duradouras
Mas
só quando mudam, vejo
Que
importância é um caleidoscópio quebrado
Com
prismas contados
Como
os degraus de uma escada
E
de tanto levar a sério
A
ilusão dos prismas
E
a escada do tempo
Quase
cai…
E
também
Quase
subi…
Acho
que os anos construíram pilares nos meus olhos
Que
quase represaram lágrimas
Que
quase procuraram inocência
Acho
que os anos distorceram imagens
E
quebraram espelhos
Mesmo
assim
Fragmentado
Há
um meio sorriso em minha face
Que
insiste em desenhar possibilidades
Na
arrogância do mundo
Como
há pessoas que conseguem
Desenhar
um mundo próprio
Dentro
do mundo?
Eu
tentei também
Mas
quase…
Tudo
que tenho
É
algo quase inteiro
Uma
quase vitória
Uma
quase saudade
Uma
quase vida
Uma
quase morte
Ah,
como eu queria
A
enchente que inunda as casas
E
que transforma
A
destruição em verdade
Como
eu queria desmascarar versões
Como
eu queria a poesia pela poesia
A
transparência dos corações
O
abraço que não afasta
E
os ventos que espalham outonos
No
meu rosto quase silente
Quase
inquieto
Sim,eu
me tornei uma quase pessoa
Uma
escultura torta pelos desencantos dos dedos
Uma
pintura borrada pela audácia dos medos
Uma
obra anônima
Quase
invisível
E
como quase gente
Quase
alma
Fiz
uma oração
Inventada
Que
diz, Senhor,
Por
todas as câmeras de ar
Existentes
nos ossos dos pássaros
Que
os suspendem, sem titubear
Traga-me
uma quase leveza
Me
permita voar
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